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Ciências Sociais podem ajudar a combater a crise climática e a perda da biodiversidade global (Agência Fapesp)

Por meio de estudos de percepção pública é possível entender os fatores que influenciam a resistência de parte da sociedade a reconhecer os riscos associados a problemas ambientais, disse a professora da UFRJ Elisa Reis durante a Escola FAPESP 60 anos: Humanidades, Ciências Sociais e Artes (foto: Irina de Marco/Agência FAPESP)

25 de agosto de 2022

Elton Alisson, de Itatiba | Agência FAPESP – Além de temas emergentes e próprios de seu campo de estudo, como mudanças no mundo do trabalho, inclusão e migrações internacionais, as Ciências Sociais podem contribuir para o avanço do conhecimento sobre questões intrinsecamente relacionadas com as Ciências Naturais, como a crise climática e a perda da biodiversidade global.

Por meio de estudos de percepção pública conduzidos por pesquisadores da área, por exemplo, é possível entender melhor os fatores que influenciam parte da sociedade a não reconhecer os riscos desses problemas ambientais a despeito de todas as evidências científicas, avaliou Elisa Reis, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em palestra proferida na terça-feira (23/08), durante a Escola FAPESP 60 anos: Humanidades, Ciências Sociais e Artes.

O evento, que começou domingo (21/08) e terminou ontem (24/08) em Itatiba, no interior de São Paulo, reuniu 53 pesquisadores em início de carreira para assistir conferências e interagir com especialistas de renome em suas áreas.

“Se os humanos não perceberem a gravidade não será possível superar as ameaças apresentadas pela crise climática. E na questão da perda da biodiversidade, muitos pesquisadores têm apontado que a grande lacuna para avançar no combate a esse problema é que falta convencer as pessoas comuns sobre sua importância”, afirmou Reis.

“As Ciências Sociais podem colaborar com o entendimento sobre percepção pública”, apontou a pesquisadora, que tem se dedicado a estudar ao longo das últimas décadas temas como estados nacionais, cidadania, elites, desigualdades sociais e políticas públicas.

A constatação da importância crescente da percepção pública para avançar no entendimento não só dessas questões, como também de outros problemas emergentes, entre eles o negacionismo científico, estimulou a pesquisadora a mudar mais recentemente seu foco de pesquisa.

“Estou conduzindo no momento estudos sobre confiança pública, mais especificamente sobre como as pessoas percebem as instituições e uns aos outros, relacionando isso com desigualdade, que é o meu tema base de pesquisa”, disse.

Algumas evidências já observadas pela cientista política é que a confiança e a desigualdade são questões interativas. “A seta causal da confiança começa na desigualdade”, afirmou Reis.

Nova agenda de pesquisa

De acordo com a pesquisadora, a desigualdade foi um dos temas que se destacaram na agenda de pesquisa nas Ciências Sociais no século 20. Em razão da continuidade do problema, segue sendo um objeto de pesquisa relevante.

“Até recentemente, o contrário de igualdade era diferença. Durante muito tempo, isso permaneceu líquido e certo até que o ressurgimento das diferenças e de demandas específicas introduziu as tensões que observamos atualmente e que se constituem em problemas que as Ciências Sociais precisam se debruçar”, apontou.

Entre esses novos problemas estão as migrações internacionais – em que há uma superposição das questões de diferença e de desigualdade; identidade, inclusão e revolução nas comunicações e nas formas de interação social. Completam a lista de temas os fluxos financeiros, mudanças no mundo do trabalho, crises sistêmicas e os problemas ambientais e crises globais, elencou Reis.

“As Ciências Sociais são ciências históricas. Nesse sentido, os problemas que estudamos, por mais particulares que sejam, são influenciados pelo ambiente em que vivemos”, disse.

A pesquisadora destacou que as Ciências Sociais têm sido mais reconhecidas como ciência. Um dos indicativos nesse sentido foi a integração recente dos Conselhos Internacionais de Ciências e de Ciências Sociais. A junção das duas entidades deu origem ao Conselho Internacional de Ciência, do qual Reis foi vice-presidente.

“Todas as ciências são sociais, uma vez que todos os cientistas têm função social”, ponderou.

Reunião Magna da ABC ressalta que o prazer de fazer ciência pela ciência está acima de qualquer premiação (Jornal da Ciência)

terça-feira, 12 de maio de 2015

    12.05 - Suzana

    Evento atraiu parcela de leigos interessados em comprovar que o desenvolvimento científico pode ser uma solução para os problemas socioeconômicos do Brasil

    Para participantes e organizadores da Reunião Magna 2015 da Academia Brasileira de Ciências, realizada de 4 a 6 de maio, no Rio de Janeiro, é, sem dúvida, difícil elencar os momentos que mais capturaram a atenção. A excelência dos temas escolhidos para as sessões, assim como o alto nível dos palestrantes, atraiu um público variado, que reuniu desde jovens talentos da Ciência no Brasil aos renomados integrantes da Academia e que há anos trabalham, dentro e fora de laboratórios, para que o Brasil ganhe destaque no cenário de produção científica internacional.

    Sob o tema “O Valor da Ciência”, na acepção de Poincaré, matemático, físico e filósofo francês que conferiu uma nova abordagem à Ciência entre os séculos XIX e XX, a Reunião Magna 2015 estimulou a discussão em torno do valor intrínseco de atividade científica _ ciência pela ciência_, ressaltando a importância da Ciência para o desenvolvimento socioeconômico brasileiro. Entre as palestras, um denominador comum ficou claro, é preciso estimular a ousadia dos jovens cientistas para que as pesquisas se transformem em inovação. Outro ponto em comum das apresentações dos cientistas foi a importância do trabalho de equipe e valorização de cada colaborador em uma pesquisa.

    Ganhadora do Prêmio Nobel de Química e primeira mulher israelense a obter a premiação, a cientista Ada Yonath mostrou que o bom humor é um traço dos pesquisadores, que têm o brilho no olhar ao comprovar o fundamento de suas pesquisas. Após sua palestra no último dia da Reunião Magna, Ada conheceu o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Recebida pelo vice-diretor do Instituto, prof. José Garcia Abreu, e pela coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas da UFRJ, profa. Flávia Alcantara Gomes, Membro Afiliado da ABC, Ada afirmou, com relação às perguntas dos alunos de pós-graduação, sobre o que representou ganhar o prêmio Nobel, que “ganhar o prêmio foi bom…. mas entender a estrutura dos ribossomos foi o que me deu de fato a maior satisfação”. Ela deixou claro que o prazer da descoberta científica deve estar acima do prazer do reconhecimento.

    O prazer de concluir uma pesquisa e ver o trabalho de anos refletindo em um bem maior para sociedade também foi a mensagem do biólogo francês Jules Hoffmann, vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia/ Medicina de 2011, por um trabalho feito com Bruce Beutler que descobriu a ativação da imunidade inata. Ele capturou atenção máxima de todo o público do segundo dia da Reunião Magna de 2015. Atualmente à frente da direção da área de pesquisa e membro do Conselho de Administração do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), ele enalteceu a contribuição de todos os demais integrantes de sua equipe, que, segundo ele, foram fundamentais para o resultado.

    Respostas às inquietudes

    Ao final do evento, o coordenador da Reunião Magna 2015, professor Vivaldo Moura Neto, disse ao Jornal da Ciência que a escolha do tema teve a intenção de destacar o prazer humano de fazer ciência, de buscar respostas às inquietudes do homem diante da natureza. Segundo ele, é preciso valorizar a Ciência no que ela pode trazer como implicações no desenvolvimento tecnológico, inovador e assim certamente contribuir para o desenvolvimento do país.

    “Nós, hoje como ontem e ainda amanhã, precisaremos estar atentos a isto. Será preciso que os governantes reconheçam a contribuição da Ciência brasileira ao desenvolvimento, uma ciência madura, produtiva, rica de possibilidades para atender ao desenvolvimento nacional. Repetimos isto durante os três dias, demonstramos esta verdade com projetos em curso e resultados testados”, disse. “Vejam exemplos do que se faz no CENPES, na COPPE, nos Institutos do Centro de Ciências da saúde da UFRJ, na USP, na Universidade de Campinas, na Bioquímica da UFRGS, no Instituto do Cérebro da PUC-do Rio Grande do Sul, ou o trabalho dos virologistas no Pará, além de tantos mais. De fato, o encontro permitiu mostrar o quanto estamos prontos para oferecer, a partir da ciência fundamental, os produtos que ela sabe gerar. Os engenheiros foram contundentes nos seus exemplos. É incrível a miopia de tantos que, lá do alto, não veem o que se passa aqui na terra brasilis”, completou o coordenador da Reunião Magna 2015.

    Atrair os jovens

    Nesta edição, a Reunião Magna atraiu, além de cientistas experientes e jovens talentos da produção científica, um grupo expressivo de “leigos”, segundo o professor Moura Neto. “Nos três dias da Reunião, houve relatos das experiências dos mais vividos, mas todos nós sabemos que não se faz um pesquisador, não se faz um cientista, de repente. É preciso atrair os jovens, entusiasmá-los, orientá-los. No entanto, não havia apenas jovens de centros universitários, ou os mais experientes da ciência, havia uma parcela de leigos, que certamente encontrou na Reunião Magna uma fonte de conhecimento, uma esperança de que se poderá melhorar o país. Seria interessante, naturalmente, que os governantes também vissem isto”, completou Moura Neto.

    Sobre a participação dos convidados estrangeiros e da sua percepção sobre o desenvolvimento da produção científica no Brasil, o coordenador da Reunião Magna 2015 disse que eles já têm colaboração com equipes brasileiras. “Se eles mantêm estas colaborações, é porque sabem da qualidade excelente do que fazemos aqui. Eles mesmo disseram isto, como por exemplo o matemático francês Etiennen Ghys, que aliás fez parte de sua formação no Rio de Janeiro, no IMPA”, comentou.

    Segundo Moura Neto, o prêmio Nobel Jules Hoffmann enalteceu, nas suas conversas de corredor na ABC, durante o evento, a satisfação de suas colaborações com esquipes paulistas. O coordenador da Reunião Magna também comentou que a cientista Ada Yonath, que, segundo ele, encantou a todos com uma conferência espetacular, manifestou possibilidades de colaborar com grupos brasileiros. “Se eles querem estas colaborações é porque nos reconhecem ombro a ombro”, finalizou.

    Suzana Liskauskas/ Jornal da Ciência