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Opinião – Pablo Acosta: Ciências comportamentais podem complementar forma tradicional de fazer política (Folha de S.Paulo)

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22.fev.2022 às 4h00


Tradicionalmente, os gestores elaboram políticas públicas tendo como base um agente econômico racional, ou seja, uma pessoa capaz de avaliar cada decisão, maximizando sua utilidade para interesse próprio. Ignoram, porém, as poderosas influências psicológicas e sociais que afetam o comportamento humano e desconsideram que pessoas são falíveis, inconstantes e emocionais: têm problemas com autocontrole, procrastinam, preferem o status quo e são seres sociais. É com base nesse agente “não tão racional” que as ciências comportamentais se apresentam para complementar a forma tradicional de fazer política.

Por exemplo: já nos aproximamos da marca de dois anos desde a declaração pela Organização Mundial da Saúde de estado de pandemia da Covid-19 em 11 de março de 2020. Foram anos desafiadores para governos, empresas e indivíduos. Mas apesar de 2021 ter apresentado sinais de recuperação, há ainda um longo e árduo caminho a ser percorrido para retornar ao menos às condições pré-pandemia. Não apenas na saúde, mas também no equilíbrio das economias, no aumento da produtividade, na retomada de empregos, na recuperação das lacunas de aprendizagem, na melhora do ambiente de negócios, no combate às mudanças climáticas, etc. Obviamente, essa não é uma tarefa simples para governos e organizações. Poderíamos encarar esses desafios de forma diferente e adaptar a maneira de fazer políticas públicas para torná-las mais eficientes e custo-efetivas, aumentando seus impactos e alcance?

A resposta é sim. O sucesso de políticas públicas depende, em parte, da tomada de decisão e da mudança de comportamentos. Por isso, focar mais nas pessoas e no contexto da tomada de decisão se torna cada vez mais imperativo. É importante considerar como pessoas se relacionam entre si e com instituições, como se portam frente às políticas e conhecer bem o ambiente em que estão inseridas.

A abordagem comportamental é científica e alia conceitos da psicologia, economia, antropologia, sociologia e neurociência. Orientada pelo contexto e baseada em evidências, concilia teoria e prática em diversos setores. Sua aplicação pode abranger uma simples mudança no ambiente da tomada de decisão (arquitetura de escolhas), um “empurrãozinho” (nudge) para influenciar a melhor decisão para o indivíduo, mantendo liberdade de escolhas, e pode ser mais ampla, visando a mudança de hábito. Para além disso, pode ser chave no enfrentamento de desafios de políticas como abandono escolar, violência doméstica e de gênero, pagamento de impostos, redução de corrupção, desastres naturais, mudanças climáticas, entre outros.

O uso de insights comportamentais em políticas públicas já não é mais novidade. Mais de uma década se passou desde a publicação (2008) do livro Nudge (“Nudge: como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade”, em português), que impulsionou o campo de forma espetacular. Conceitos da psicologia, já amplamente discutidos e aceitos por décadas, foram utilizados no contexto das decisões econômicas e, assim, a economia/ciência comportamental se consolidou.

Acompanhando a expansão e relevância do tema, o Banco Mundial, lançou em 2015 o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial: Mente, Sociedade e Comportamento. Em 2016, iniciou sua própria unidade comportamental, a eMBeD (Unidade Mente, Comportamento e Desenvolvimento) e tem promovido o uso sistemático de insights comportamentais em políticas e projetos de desenvolvimento e apoiado diversos países para solucionar problemas de forma rápida e escalável.

No Brasil, temos atuado na capacitação de gestores para o uso de insights comportamentais, em contribuições em pesquisas, como na Pesquisa sobre Ética e Corrupção no Serviço Público Federal (Banco Mundial e CGU) e em apoio técnico na identificação de evidências, como para informar soluções para aumentar a poupança entre a população de baixa renda. Nossos especialistas prepararam também diagnósticos comportamentais para entender por que clientes não pagam a conta em dia ou deixam de se conectar ao sistema de esgoto. Realizamos experimentos com mensagens comportamentais a fim de estimular a utilização de meios digitais de pagamentos e incentivar o pagamento de contas em dia no setor de água e saneamento. Neste último, apresentando resultados positivos com possibilidade de aumento de arrecadação a um custo baixo, já que as mensagens ressaltando consequências e reciprocidade, por exemplo, aumentaram os pagamentos em dia e a quantia total paga. Para cada mil clientes que receberam o SMS com insights comportamentais, de seis a 11 clientes a mais pagaram as contas. Para 2022, há atividades planejadas, como parte de um projeto de desenvolvimento, que usará insights comportamentais para reduzir o descarte de resíduos em sistemas de drenagem e aumentar o uso consciente de espaços públicos.

As ciências comportamentais não são a solução para os grandes desafios globais. Mas é preciso ressaltar o potencial de sua complementariedade na construção de políticas públicas. Cabe aos gestores aproveitarem esse momento de maior maturidade da área para expandirem seus conhecimentos. Vale ainda surfar na onda de ascensão de áreas complementares, como cesign e ciência de dados, para centrar o olhar no indivíduo e no contexto da decisão e, baseando-se em evidências e de maneira transparente, influenciar as escolhas e promover mudança de comportamento, de forma a aumentar o impacto das políticas públicas a fim de não só retomar as condições pré-Covid, mas melhorar ainda mais a vida e o bem-estar de todos, especialmente da população mais pobre e vulnerável.

Esta coluna foi escrita em colaboração com meus colegas do Banco Mundial Juliana Neves Soares Brescianini, analista de operações, e Luis A. Andrés, líder de programa do setor de Infraestrutura.

Can workshops on household water use impact consumer behavior? (Science Daily)

Date: January 31, 2014

Source: American Society for Horticultural Science

Summary: Researchers studied the effectiveness of workshops designed to focus on residential water conservation using a sample of irrigation water use data for 57 workshop participants and 43 nonparticipants. Results indicated that the 2-hour workshops were effective in reducing attendees’ irrigation water use; however, the effect was short lived. Results also showed that effects of workshop attendance depended on the household sample, and found that water use increased for some low-use workshop participants.

In Florida, where population growth, drought, and saltwater intrusion are affecting finite water sources, researchers are looking for effective ways to educate consumers about household water use habits. Despite an average annual rainfall of 55 inches, Florida was included on the Natural Resources Defense Council’s list of states with the greatest risk of water shortages in the coming years; the daily total state domestic water use in Florida is the fourth highest in the United States. A large proportion of Florida’s water is not used for human consumption, but is used for irrigating residential landscapes. In fact, a recent South Florida Water Management District study reported that outdoor water use in their area constitutes up to 50% of total household water consumption, and that up to 50% of the water applied to lawns is wasted through evaporation or overwatering.

Universities and municipalities are addressing this critical environmental concern through outreach and extension programs designed to educate the public about water conversation. But are these workshops effective in actually helping participants reduce their water use? Tatiana Borisova and Pilar Useche from the University of Florida conducted a study published in HortTechnology to determine the effectiveness of free, 2-hour irrigation management workshops conducted by the Florida Cooperative Extension Service in cooperation with a local water provider in order to find out if there were short- and long-term impacts of workshop participation. “Landscape management outreach programs have been implemented by regional and local agencies, Cooperative Extension Services, and other organizations to encourage more efficient irrigation water use and residential water conservation,” explained lead author Borisova. “However, limited information exists about the effectiveness of such programs.”

The team studied actual water use data for 12 months before and after workshops, and then compared water use data from workshop participants with the water use of households that did not participate in the workshop. They found “statistically significant reduction in water use” only in the month of the workshop. “Although the workshop has an impact on water use, this impact is very short-lived,” noted Borisova. “For workshop participants and nonparticipants, water use returns to the base level immediately in the months following the workshop.” The authors added that reinforcement of the educational message received during the workshop is probably required to sustain water-use reductions over time.

The team also found that the effect of workshop attendance depended on the sample of the households considered. For example, in the subsample of the low water-use households, water use tended to increase following the workshop. “The overall objective of the workshop was to improve the irrigation efficiency by reducing water wastes. However, households with low average water use may already be technically efficient, and workshop attendance cannot reduce their irrigation water use further without negatively affecting the yard aesthetics and plant health,” explained Borisova.

Borisova and Useche recommend development of a comprehensive evaluation approach for water use programs that includes evaluation of actual water use reductions in order to more accurately quantify program impact, design more effective educational programs, and better target the programs to consumers.

The complete study and abstract are available on the ASHS HortTechnology electronic journal web site: http://horttech.ashspublications.org/content/23/5/668.abstract

Journal Reference:

  1. Tatiana Borisova and Pilar Useche. Exploring the Effects of Extension Workshops on Household Water-use BehaviorHortTechnology, October 2013