Arquivo mensal: julho 2024

Prefeitura de Paris não contrata Cacique Cobra Coral e faz abertura das Olimpíadas na chuva (Sensacionalista/O Globo)

Sensacionalista

Humor. O jornal isento de verdade.

28/07/2024 09h05

Torcedores na chuva em Paris
Torcedores na chuva em Paris — Foto: Nir Elias / POOL / AFP

Paris não seguiu o exemplo de César Maia e Eduardo Paes, que pagaram por serviços de metereologia mediúnicos, e fez sua cerimônia de abertura debaixo de um temporal.

A cidade elevou o sarrafo dos espetáculos de aberturas e outras sedes olímpicas terão que treinar o salto em altura para superar a festa.

São Paulo anunciou sua candidatura e disse que o Tietê está pronto. “É só os atletas usarem aqueles trajes de risco biológico, que também protegem contra uma possível chuva”, disse o prefeito Ricardo Nunes.

Hashtag: Chove em Paris e nas redes chovem memes de abertura morna (Folha de S.Paulo)

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Internautas culpam o prefeito da cidade-luz por não ter encontrado um ‘caciqueux cobraint coral’

26 de julho de 2024


Chove chuva, chove sem parar em Paris. A cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris-2024 está debaixo de chuva desde seu início, às 14h30, horário de Brasília. Isso não impediu, porém, as apresentações, e muito menos os memes. Quem curte de casa esperava imagens avassaladoras do pôr do sol parisiense, enquanto os que estão presencialmente esperavam assistir à cerimônia, secos.

No X (ex-Twitter), entrou para os assuntos mais comentados “cacique cobra coral”, meme de uma fundação que tem como propósito minimizar ou impedir eventos climáticos, como catástrofes ou, no caso de Paris, a chuva. Internautas reclamam que a prefeita esqueceu de contratar a Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC).

Galvão Bueno protagonizou um momento “Parasita” ao elogiar a chuva.

Celine Dion entra só depois de um barco afundar?

Paris sob chuva.

‘Cerimônia de abertura poderia ter sido sem chuva, mas não fomos chamados’, diz Fundação Cacique Cobra Coral (Folha de S.Paulo)

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Delegações desfilaram debaixo d’água na abertura das Olimpíadas de Paris

Anahi Martinho

26.jul.2024 às 17h37

Espectadores tomam chuva na cerimônia de abertura das Olimpíadas, em Paris – AFP

São Paulo

Osmar Santos, um dos diretores da Fundação Cacique Cobra Coral, lamentou a chuva intensa que atingiu a cerimônia de abertura das Olimpíadas nesta sexta-feira (26), em Paris.

A fundação, que afirma intervir misticamente no clima, não foi contratada para os Jogos de 2024. Em Tóquio, porém, eles estiveram presentes e asseguraram o tempo firme. Nos Jogos de Londres, em 2012, desviaram uma chuva torrencial que estava prevista para cair bem na hora da cerimônia de abertura.

Segundo Osmar, o evento em si é apenas um detalhe. A entidade só desvia a chuva quando há motivo sério para isso. A equipe conta com cientistas e meterologistas que estudam para onde as chuvas podem ir.

Na ocasião de Londres, a água foi desviada para regiões de Portugal e Espanha que sofriam com queimadas.

“Paris poderia ter sido diferente, mas não fomos chamados e não temos tempo de ficar atrás de quem precisa”, disse Osmar ao F5. Segundo ele, a fundação está com muita demanda e não houve procura do COI neste ano, diferente do que já ocorreu em outras edições das Olimpíadas.

O diretor ainda lamentou o descaso com as mudanças climáticas a nível mundial. “Não é só em Paris, o clima está muito estável em todo o planeta”, afirmou.

Calor pode nos tornar mais agressivos e menos inteligentes (Folha de S.Paulo)

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Dana G. Smith

02.julho.2024


The New York Times Em julho de 2016, uma onda de calor atingiu Boston, nos EUA, com temperaturas diurnas médias de 33 graus Celsius durante cinco dias consecutivos. Alguns estudantes universitários locais que ficaram na cidade durante o verão tiveram sorte e moravam em dormitórios com ar-condicionado central. Outros estudantes, nem tanto —ficaram presos em dormitórios mais antigos sem ar-condicionado.

Jose Guillermo Cedeño Laurent, um pesquisador da Universidade de Harvard na época, decidiu aproveitar esse experimento natural para ver como o calor, e especialmente o calor à noite, afetava o desempenho cognitivo dos jovens adultos. Ele fez com que 44 alunos realizassem testes de matemática e autocontrole cinco dias antes da temperatura subir, todos os dias durante a onda de calor e dois dias depois.

“Muitos de nós pensamos que somos imunes ao calor”, afirma Cedeño, agora professor assistente de saúde ambiental e ocupacional e justiça na Universidade Rutgers. “Então, algo que eu queria testar era se isso era realmente verdade.”

Acontece que até estudantes universitários jovens e saudáveis são afetados por altas temperaturas. Durante os dias mais quentes, os alunos nos dormitórios sem ar-condicionado, onde as temperaturas noturnas médias eram de 26 graus, tiveram um desempenho significativamente pior nos testes que fizeram todas as manhãs do que os alunos com ar-condicionado, cujos quartos permaneciam agradáveis a 21 graus.

Uma onda de calor está cobrindo novamente o Nordeste, Sul e Centro-Oeste dos EUA. Altas temperaturas podem ter um efeito alarmante em nossos corpos, aumentando o risco de ataques cardíacos, insolação e morte, especialmente entre adultos mais velhos e pessoas com doenças crônicas. Mas o calor também prejudica nossos cérebros, prejudicando a cognição e nos tornando irritáveis, impulsivos e agressivos.

Como o calor nos torna menos inteligentes

Numerosos estudos em ambientes de laboratório produziram resultados semelhantes aos da pesquisa de Cedeño, com pontuações em testes cognitivos diminuindo à medida que os cientistas aumentavam a temperatura na sala.

Isso pode ter consequências reais. R. Jisung Park, um economista ambiental e do trabalho na Universidade da Pensilvânia, analisou as notas de testes padronizados do ensino médio e descobriu que elas caíram 0,2% para cada grau acima de 22 Celsius. Isso pode não parecer muito, mas pode acumular para estudantes fazendo um exame em uma sala sem ar-condicionado durante uma onda de calor de 32 graus.

Em outro estudo, Park descobriu que quanto mais dias mais quentes do que a média havia durante o ano letivo, pior os alunos se saíam em um teste padronizado —especialmente quando o termômetro subia acima de 26 graus. Ele acredita que isso pode ser porque a maior exposição ao calor estava afetando o aprendizado dos alunos ao longo do ano.

O efeito foi “mais pronunciado para estudantes de baixa renda e minorias raciais”, explica Park, possivelmente porque eles tinham menos probabilidade de ter ar-condicionado, tanto na escola quanto em casa.

Por que o calor nos torna agressivos

Pesquisadores descobriram pela primeira vez a ligação entre calor e agressão ao analisar dados de crimes, descobrindo que há mais assassinatos, agressões e episódios de violência doméstica em dias quentes. A conexão também se aplica a atos não violentos: quando as temperaturas sobem, as pessoas são mais propensas a se envolver em discursos de ódio online e a buzinar no trânsito.

Estudos de laboratório confirmam isso. Em um experimento de 2019, as pessoas agiram com mais rancor em relação aos outros enquanto jogavam um videogame especialmente projetado em uma sala quente do que em uma sala fria.

A chamada agressão reativa tende a ser especialmente sensível ao calor, provavelmente porque as pessoas tendem a interpretar as ações dos outros como mais hostis em dias quentes, levando-as a responder da mesma forma.

Kimberly Meidenbauer, professora assistente de psicologia na Washington State University, acha que esse aumento na agressão reativa pode estar relacionado ao efeito do calor na cognição, particularmente na queda no autocontrole. “Sua tendência de agir sem pensar, ou não conseguir se impedir de agir de certa maneira, essas coisas também parecem ser afetadas pelo calor,” afirma.

O que acontece no cérebro

Os pesquisadores não sabem por que o calor afeta nossa cognição e emoções, mas existem algumas teorias.

Uma é que os recursos do cérebro estão sendo desviados para mantê-lo frio, deixando menos energia para todo o resto. “Se você está alocando todo o sangue e toda a glicose para partes do seu cérebro que estão focadas na termorregulação, parece muito plausível que você simplesmente não teria o suficiente para algumas dessas funções cognitivas mais altas,” diz Meidenbauer.

Você também pode ficar distraído e irritado por causa do calor e da tristeza que sente. Acontece que essa é, na verdade, uma das respostas de enfrentamento do cérebro. Se você não conseguir se acalmar, seu cérebro “fará você se sentir ainda mais desconfortável, de modo que encontrar o que você precisa para sobreviver se tornará desgastante”, explicou Shaun Morrison, professor de cirurgia neurológica na Oregon Health and Science University.

O efeito do calor no sono também pode desempenhar um papel. No estudo de Boston, quanto mais quente ficava, mais o sono dos alunos era interrompido —e pior eles se saíam nos testes.

A melhor maneira de compensar esses efeitos é se refrescar o mais rápido possível. Se você não tem acesso ao ar-condicionado, ventiladores podem ajudar, e certifique-se de se manter hidratado. Pode parecer óbvio, mas o que mais importa para seu cérebro, humor e cognição é quão quente seu corpo está, não a temperatura lá fora.

2 em cada 3 pagariam mais caro em carro elétrico para combater mudanças climáticas, diz Datafolha (Folha de S.Paulo)

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Jéssica Maes

02.julho.2024


Os brasileiros estão dispostos a modificar hábitos de consumo para ajudar na luta contra o aquecimento global, mostra uma nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda-feira (1º).

Em uma questão em que foram apresentadas possíveis medidas individuais para combater as mudanças climáticas, 100% dos entrevistados afirmaram que adotariam alguma delas.

Quase a totalidade concordaria com atitudes simples, como trocar as lâmpadas de casa por modelos mais econômicos (99%) e reduzir o uso de plástico e embalagens descartáveis (94%). Os índices de aceitação são altos mesmo entre atitudes de custo superior, como colocar painéis solares em casa (89%) ou pagar mais caro por produtos com baixa emissão de carbono (74%) Dois em cada três (63%) investiriam mais por um carro elétrico (63%).

A pesquisa sobre a compreensão e a relação da população com as mudanças climáticas foi realizada presencialmente, com 2.457 pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios pelo Brasil, entre os dias 17 e 22 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com taxa de confiança de 95%.

O levantamento mostra que a maioria das pessoas também aceitaria usar mais o transporte público ou a bicicleta (82%), escolher viagens para lugares mais próximos para evitar usar avião (77%) e até mesmo reduzir o consumo de carne (68%) em prol do meio ambiente.

A queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, para produção de energia, transporte e pela indústria é a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no mundo. No Brasil, a principal fonte de emissões é o desmatamento, que tem no setor agropecuário o seu motor mais significativo.

Além disso, o plástico, que é um derivado do petróleo, ainda causa um problema ambiental por si só —especialmente aquele de uso único, como embalagens ou produtos descartáveis. Cerca de 450 milhões de toneladas desse material são descartadas por ano no mundo e apenas 9% é reciclado. Até 2050, as previsões são de que haja mais plástico do peixe nos oceanos.

Os resultados da pesquisa Datafolha apontam, ainda, que 83% dos brasileiros acreditam que atitudes individuais têm um papel importante para resolver problemas ambientais.

Metade (51%) das pessoas diz acreditar que ações individuais contribuem muito para a sustentabilidade e preservação do meio ambiente, e um terço (32%) que contribuem um pouco, enquanto apenas 16% dizem que essas atitudes não contribuem.

O índice de quem acredita na importância de ações individuais para a conservação chega a 93% entre aqueles com ensino superior, 86% para quem tem nível médio e cai a 73% entre os de nível fundamental.

A taxa também cresce, atingindo 88%, na parcela mais jovem dos entrevistados, de 16 a 24 anos. O número fica em 86% para o estrato de 25 a 44 anos, 82% para a faixa etária entre 45 e 59 anos e reduz para 76% na parcela mais velha, de 60 anos ou mais.

Ao mesmo tempo que metade dos brasileiros acreditam que ações individuais são muito significativas para a sustentabilidade, apenas 25% se sentem, pessoalmente, muito responsáveis pelas mudanças climáticas. Outros 51% dizem se sentir um pouco responsáveis e 23%, nada responsáveis. Só 1% não soube opinar.

De modo geral, ações tomadas individualmente pelos cidadãos podem contribuir para reduzir as emissões de gases que aquecem o planeta, como abrir mão de meios de transporte movidos a combustão, fazer adaptações na dieta e consumir produtos de origem sustentável, como recomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Contudo, para mudar significativamente o cenário e as previsões para o futuro do clima, são necessárias grandes transformações em setores econômicos, o que requer medidas contundentes de governos e corporações.

97% dos brasileiros percebem mudanças climáticas no dia a dia, aponta Datafolha (Folha de S.Paulo)

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Jéssica Maes

02.julho.2024


Em meio a fenômenos de proporções históricas, como os alagamentos que devastaram o Rio Grande do Sul e a seca que vem causando incêndios florestais recordes no pantanal, 97% dos brasileiros afirmam que percebem no dia a dia que o planeta está passando por mudanças climáticas.

O dado pertence a uma nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda-feira (1º), que aponta que apenas 2% dos entrevistados negam a existência das alterações no clima, enquanto 1% não soube responder.

O levantamento foi realizado presencialmente, com 2.457 pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios pelo Brasil, entre os dias 17 e 22 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com taxa de confiança de 95%.

Os resultados mostram que essa percepção quase unânime se repete mesmo considerando diferentes recortes, como gênero, nível de escolaridade e faixa etária —chegando, por exemplo, a 100% de concordância sobre a ocorrência das mudanças climáticas entre os mais jovens, de 16 a 24 anos.

Os índices caem, porém, quando questionados sobre os agentes que provocam essa transformação. São 77% quem acha que as mudanças climáticas são causadas principalmente pelas ações humanas, enquanto 20% defendem que a causa delas é a oscilação natural da temperatura.

Conforme aponta o consenso científico, a crise do clima atual é provocada pelos gases de efeito estufa emitidos pelas atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, que aquecem o planeta. Em 2021, uma análise de quase 90 mil artigos científicos mostrou que mais de 99,9% dos pesquisadores do mundo concordam sobre essas causas e efeitos.

Os altos índices gerais de reconhecimento da mudança do clima podem estar relacionados ao aumento da intensidade, frequência e exposição a eventos climáticos extremos. A pesquisa perguntou se nas últimas semanas o lugar onde o entrevistado mora passou por diferentes tipos de fenômenos desta natureza, e 77% disseram que sim.

Entre esses, o número mais expressivo foi o de pessoas que passaram por calor extremo (65%), seguido de chuva intensa ou tempestade (33%), e seca extrema (29%). Enchentes atingiram 20% dos entrevistados e deslizamentos de terra, 7%.

Um quarto dos respondentes (23%) afirmou não ter vivenciado nenhum destes eventos recentemente.

Para Paulo Artaxo, professor de física da USP (Universidade de São Paulo) e membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), vinculado à ONU, no mundo inteiro a população está percebendo que o clima mudou para pior, o que é reforçado pela ocorrência de fenômenos extremos.

“As mudanças climáticas se dão em dois níveis. Primeiro, um lento e gradual: degradação ambiental com o aumento lento da temperatura, redução ou aumento lento da precipitação, o aumento do nível do mar que afeta as áreas costeiras e assim por diante”, explica.

“Um segundo componente é a intensificação dos eventos climáticos extremos, que cada vez mais se tornam muito perceptíveis para a população em geral, causando enormes danos na saúde, na economia e na sociedade em geral”.

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, que reúne mais de uma centena de organizações ambientais, concorda.

“As pessoas não precisam mais procurar um relatório científico para se informar. Elas abrem a janela de casa, ligam a televisão e as mudanças climáticas estão acontecendo —não são mais uma previsão, são o presente”, diz. “Isso, obviamente, faz com que as pessoas tenham mais capacidade de compreender o que está acontecendo”.

O Datafolha mostra que a escolaridade é um fator que impacta a percepção dos brasileiros sobre o clima. Entre pessoas com educação de nível fundamental, 67% acreditam que as mudanças climáticas são causadas pela humanidade, 26% dizem que elas fazem parte da natureza e 4%, que não existem, Entre aquelas com ensino superior, os números são, respectivamente, 87%, 13% e 1%.

Astrini afirma que os resultados estão relacionados à falta de acesso à informação qualificada e à abundância de fake news disseminadas sobre o tema.

“Nós vivemos em um mundo em que existe desinformação em larga escala e alguns setores são alvos preferenciais de quem provoca a desinformação. O meio ambiente é um deles”, diz. “Em meio ambiente há muito, muito tempo, a gente enfrenta um verdadeiro batalhão —que vem enfraquecendo, mas ainda existe— de negacionismo, de desinformação”.

Também é entre os que passaram menos tempo na educação formal que está a taxa mais alta de descrença nas previsões da ciência sobre as consequências do aquecimento global. Daqueles que estudaram até o ensino fundamental, 43% dizem acreditar que cientistas e ambientalistas exageram sobre os impactos das mudanças climáticas, enquanto na população geral o índice é de 31%.

O nível mais alto de confiança nos especialistas está entre os mais jovens, com 77% dos que têm entre 16 e 24 anos afirmando que não há exagero a respeito do tema; 21% dizem o contrário.

Já entre aqueles com 60 anos ou mais o patamar de descrença está acima da média nacional, com mais de um terço (36%) concordando com a afirmação de que cientistas e ambientalistas exageram ao tratar dos impactos da crise do clima.

“É esperado que os mais jovens e os com mais acesso à informação mostrem maior concordância com as avaliações científicas. Os mais velhos têm a memória de condições mais estáveis e se formaram em um ambiente onde o tema não estava tão difundido, estudado ou documentado”, avalia Mercedes Bustamante, professora do departamento de ecologia da UnB (Universidade de Brasília).

Cruzando os dados da pesquisa, é possível notar, ainda, que aqueles que relatam não terem vivenciado um evento climático extremo no local onde moram são mais propensos a duvidar do parecer científico sobre os impactos do aquecimento global. Neste grupo, 36% das pessoas acham que os especialistas exageram, 61% acham que não e 3% não souberam responder.

A taxa de descrédito cai para 29% entre aqueles que passaram por alguma situação climática extrema recentemente, enquanto 69% deste estrato acha que não há exagero e 2% não soube responder.

Mais da metade dos brasileiros diz que crise do clima representa ameaça imediata, mostra Datafolha (Folha de S.Paulo)

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Jéssica Maes

02.julho.2024


Mais da metade (52%) dos brasileiros acha que as mudanças climáticas são um risco imediato para a população do planeta, enquanto 43% opinam que elas só representarão perigo para quem viverá daqui a muitos anos. Apenas 5% dizem que a crise do clima não representa risco algum.

Os números são da pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (1º), que trata das percepções e opiniões sobre as alterações no clima. O levantamento ouviu 2.457 pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios pelo Brasil, entre os dias 17 e 22 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com taxa de confiança de 95%.

“O percentual de brasileiros que compreende a mudança climática é elevado em comparação a outros países (por exemplo, os Estados Unidos)”, analisa Mercedes Bustamante, professora do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília. Ela se refere a outros dados da pesquisa, que mostram que 77% das pessoas dizem acreditar que as mudanças climáticas são provocadas principalmente pelas atividades humanas.

A pesquisadora pondera, porém, que é interessante comparar esses índices com a divisão que aparece quando os entrevistados são questionados sobre os efeitos do aquecimento global. “Isso talvez seja uma indicação [de que há uma] percepção da existência do problema, mas ainda não [percebe-se] como seus mais variados efeitos já estão no dia a dia.”

Estudos mostram que o planeta já aqueceu mais de 1,2°C desde o período pré-industrial (1850-1900), que marca o grande aumento na emissão de carbono pela humanidade, e que fenômenos climáticos extremos, como tempestades e ondas de calor, já estão mais intensos e frequentes.

O Datafolha aponta ainda que, para 58% dos entrevistados, a humanidade não conseguirá agir para reverter os impactos das mudanças climáticas. Menos de um terço da população (31%) acha que será possível retornar a um clima mais ameno, enquanto 7% dizem que isso não faz diferença para a humanidade e o planeta.

O patamar de descrença na capacidade da humanidade de reverter as mudanças climáticas varia de acordo com a escolaridade, sendo mais alto entre aqueles que têm ensino de nível médio (60%). No estrato da população com ensino superior, 36% acreditam na possibilidade dos humanos conseguirem frear a crise climática.

Apesar disso, a pesquisa mostra que a disposição dos próprios brasileiros para mudar atitudes que têm o poder de potencializar o aquecimento global é alta.

Quase a totalidade diz que concordaria em adotar atitudes simples, como trocar as lâmpadas de casa por modelos mais econômicos (99%) e reduzir o uso de plástico (94%), e os índices de aceitação são altos mesmo diante de uma atitude custosa, como colocar paineis solares em casa (89%) e pagar mais caro por produtos com baixa emissão de carbono (74%) ou para ter um carro elétrico (63%).

Para especialistas, o que pode parecer uma contradição pode ser, na verdade, apenas desesperança com a inação de governantes e grandes corporações –que são os maiores culpados pelas emissões de gases de efeito estufa e, portanto, os principais responsáveis por reduzi-las.

“A ciência mostra caminhos para a resolução da mudança do clima. No entanto, creio que a percepção de que não haverá reversão indica a avaliação da morosidade ou mesmo falta de ações políticas concretas e robustas para abordar as soluções”, afirma Bustamante.

“A falta de ação das indústrias do petróleo e dos governos que são associados a elas, que financiam uma enorme quantidade de governos no mundo todo, está fazendo com que o planeta esteja indo por uma trajetória de aumento de temperatura médio da ordem de 3°C”, afirma o físico Paulo Artaxo, pesquisador da USP.

“Isto pode comprometer muito a qualidade de vida das próximas gerações, e isso não é para o final do século, já é para as próximas décadas”, acrescenta ele.

Para Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede que reúne mais de uma centena de organizações ambientais, o impacto dessa desesperança da população em reverter as mudanças climáticas pode ter um efeito nocivo, de diminuir esforços nesse sentido.

“Quando o ser humano pensa, ‘olha, já que não tem jeito, então para que que eu vou me esforçar? Para resolver algo que não tem solução?’. Isso, inclusive, se reflete no voto, na escolha dos governantes que vão gerenciar a máquina estatal, que é quem vai resolver o problema”, explica.

“Isso desencadeia um problema em cima do outro, porque é uma imobilização. E quanto mais passa o tempo, mais estreita vai ficar a janela para termos alguma esperança de solução”, diz Astrini.

Análise: Fatalismo domina percepção sobre mudança climática (Folha de S.Paulo)

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Marcelo Leite

02.julho.2024


Talvez o fator mais determinante para essa opinião unânime decorra da repetição de eventos extremos, como secas incendiárias, ondas de calor mortíferas e tempestades avassaladoras. Em 2020 o fogo já devastara o pantanal, e o Sul fora açoitado por sucessivas chuvas torrenciais no segundo semestre de 2023.

Com a reincidência e o porte desses desastres, muita gente passou a ter experiência direta com flagelos. Ao Datafolha, 65% relataram ter enfrentado calor extremo, assim como 33% apontaram chuva intensa ou tempestade e 29%, seca extrema. Só um quarto (23%) afirmou não ter vivido nenhum desses eventos.

Eram favas contadas que a maioria dos 2.457 brasileiros entrevistados pelo Datafolha, de 17 a 22 de junho, acusaria os golpes seguidos do aquecimento global, diante da avalanche de imagens dantescas a cada noite na TV. Poucos ainda negam a mudança climática, mas isso não significa que o negacionismo morreu.

Só 77% dos ouvidos atribuem as alterações aos gases do efeito estufa produzidos pela atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis (derivados de petróleo, carvão e gás natural), o desmatamento e a agropecuária. Um contingente expressivo de 20% prefere enxergar causas naturais para a crise.

Menos gente ainda, 53%, diz acreditar que o fim da normalidade seja um risco imediato para a população da Terra. Outros 43% afirmam que o impacto afetará apenas as gerações futuras.

Quase um terço dos entrevistados (31%) avalia haver exagero de pesquisadores e ambientalistas quanto a impactos da mudança climática. Esse grupo de céticos alcança 43% entre pessoas que têm nível fundamental de escolaridade.

O dado da pesquisa que causa mais alarme aponta um excesso de fatalismo: 58% dos brasileiros opinam que a humanidade será incapaz de reverter a crise do clima. Meros 31% consideram possível manter o clima sob relativo controle, e 7% dizem que não faz diferença para a humanidade ou a natureza.

Esses bolsões remanescentes de ceticismo climático refletem o sucesso parcial da propaganda negacionista em sua tática de semear dúvidas múltiplas e variadas. Quando se torna impossível contradizer a existência do aquecimento global, dado o acúmulo de evidências e medições, lança-se suspeita sobre a contribuição humana para o fenômeno.

No mesmo diapasão, argumenta-se que a sociedade humana não tem meios para contra-arrestar fenômenos em escala planetária. Em paralelo, assegura-se que os impactos não serão tão graves assim, quem sabe até benéficos.

E pensar que há supostos cientistas dispostos a propagar tais fake news, em realidade pesquisadores argentários, aposentados ou desacreditados. Essa traição à ciência tem consequências, porém.

Embora tenha muito a perder com o desvario climático, a banda atrasada do agronegócio aplaude os mercadores de dúvidas e ajuda a eleger parlamentares, sobretudo no centrão, que tanto retrocesso impuseram à pauta ambiental no governo Bolsonaro (PL) e ainda dão suas mordidas sob a ambivalência de Lula (PT).