Renzo Taddei – 27 de maio de 2020
Um vírus fez um bocado de gente começar a tratar fungos como animais de estimação. Refiro-me às pessoas que, receosas dos riscos do consumo de comidas preparadas artesanalmente, começaram a fazer pão em casa; e especificamente quem decidiu usar fermentação natural. Manter o fermento vivo demanda mais trabalho do um cuidar de um gato; nos vídeos de internet, as pessoas falam em situações em que o fermento está “alegre” (quando está crescendo e borbulhando) e quando está “triste” (quando, por falta de alimentação, está estagnado e começa a formar álcool na sua superfície).
De fato, o fermento está mais pra gato que pra cachorro. Um dos desafios no aprender a fazer pão com fermentação natural é que ele não se adapta ao seu ritmo, e nem negocia prazos. Conseguir adaptar o próprio ritmo ao do pão – onde há atividade lenta e constante, e qualquer interferência estraga o resultado final e obriga a pessoa a voltar ao início – é um tremendo exercício de compreensão de que, para que sejamos capazes de experimentar algumas das melhores coisas da vida, é preciso aceitar o ritmo que tais coisas impõe.