Como as epidemias da história moldaram o design atual da casa (casa.com.br)

Entenda como as práticas de saúde atuais surgiram e como elas passaram dos laboratórios para as cidades e, depois, para as residências

Por Ana Carolina Harada

6 abr 2020, 15h33

 (Reprodução/Casa.com.br)

Com quase todo mundo passando mais tempo em casa, é normal que você tenha começado a reparar em coisas que não notava antes. Também é normal que você tenha se perguntado, em algum momento, se existe algo a se fazer, além da limpeza, para se livrar dos vírus. Mas o que você pode não saber é que muito do design das nossas residências contemporâneas surgiu em decorrência de outras grandes epidemias, como a pandemia de gripe de 1918, tuberculose e disenteria, por exemplo.

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A história do mobiliário dos último duzentos anos está muito relacionada à medidas de saúde. A professora de História da Arquitetura, Juliana Suzuki, explica que isso começa com as medidas sanitaristas na Europa, no final do século 19. Foi nessa época que as grandes descobertas sobre a transmissão de doenças estava acontecendo.

“As pessoas acreditavam que o grande vetor de doenças era o próprio ar. Por isso quem estava doente era mandado para longe da cidade, para receber ‘bons ares’. É com a epidemia de cólera na Inglaterra, que dizimou as populações urbanas, que o debate acerca da origem das doenças começa a ganhar mais força”, explica Juliana.

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Naquela época, tarefas muito básicas, como lavar as mãos e limpar a casa, não eram costumes. Foi só com os avanços da Ciência e a descoberta das bactérias que a compreensão sobre higiene passou a ser difundida. “Essas práticas sanitaristas começam como medidas governamentais. Hoje, parece estranho, mas era preciso leis para que as pessoas varressem suas casas e lavassem as mãos. E elas ficaram indignadas! Porque não entendiam muito bem a razão daquilo”.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

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Depois de algum tempo, essas práticas de saúde se mostraram muito efetivas e tornaram-se rotina. “Em um certo ponto, isso passa da esfera do urbanismo para o espaço doméstico e é incorporado na arquitetura e na decoração. Veja, por exemplo, as alcovas, quartos sem janela nenhuma, eles eram muito comuns. Mas depois percebeu-se que a não ventilação colabora com a propagação de doenças, então elas deixaram de ser autorizadas”, pontua a professora.

Veja exemplos de itens, cujo design foi vinculado a tentativas de conter doenças infecciosas:

Armários

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Se você já foi em algum apartamento mais antigo (ou até more em um), há grandes chances da falta de espaço no armário ser um problema. A razão disso é que, até o início do século 20, era comum que as roupas ficassem guardadas em vários móveis independentes.

A mudança para concentrar tudo nos armários aconteceu para facilitar a limpeza dos quartos. Guarda-roupas e gabinetes eram pesados e juntavam muita pó e sujeira. Em meados de 1920, Le Corbusier consolida essa ideia escrevendo sobre a importância da higiene e da limpeza no design das residências e defendendo o minimalismo.

Azulejos de cozinha

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Sabe os famosos azulejos brancos de hospital? Eles se popularizaram nas casas a partir do século 19, porque eram associados à limpeza e a ambientes livres de germes. Foi nessa época que as pessoas começaram a compreender como boa parte das doenças infecciosas se propagavam, assim, paredes claras, lisas e fáceis de limpar eram uma forma de garantir que a sujeira apareceria e pudesse ser limpa facilmente.

Lavabos

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A ideia por trás do lavabo era não ter de compartilhar o banheiro que você e sua família usam com estranhos. Considerando que tratava-se de um período que receber pessoas e entregas diárias em casa era comum (pão, leite, carvão até gelo), um banheiro logo na entrada da casa era conveniente caso alguma visita quisesse usá-lo.

Além disso, ter uma pia perto da sala e da entrada estimulava a higiene das mãos, medida crucial na prevenção de doenças.

O que está por vir

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Ainda é meio cedo para saber quais serão os impactos do Coronavírus no mobiliário doméstico, contudo, é seguro dizer que as medidas sanitárias voltarão a ser a pauta. Talvez no futuro, as casas terão pias ao lado das portas principais, bem como espaços para deixar os sapatos e roupas e até, talvez, entradas separadas que vão direto para os toaletes, para que a higienização aconteça antes de entrar.