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“Estamos ultrapassando seis dos nove limites planetários”, alerta cientista Johan Rockström (Um Só Planeta)

O cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), é reconhecido mundialmente por ter desenvolvido a estrutura dos limites planetários

Por Naiara Bertão

Um Só Planeta — São Paulo

28/08/2025

cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK),
cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), — Foto: Naiara Bertão / Um Só Planeta

O cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), voltou a chamar atenção para os riscos que a humanidade corre ao avançar sobre os limites ambientais que garantem a estabilidade da Terra. Reconhecido mundialmente por ter desenvolvido a estrutura dos limites planetários em 2009, Rockström afirmou que já estamos numa situação perigosa, em que a própria sobrevivência de sociedades humanas complexas está em jogo.

O cientista participou nesta terça-feira (26) do encontro Futuro Vivo, evento organizado pela empresa de telecomunicações Vivo com o objetivo de ser um espaço de debate sobre os limites da tecnologia e de como desenvolver soluções sustentáveis para o meio ambiente.

Os limites planetários mostram exatamente os espaços seguros para um planeta estável — Foto: Divulgação/Netflix
Os limites planetários mostram exatamente os espaços seguros para um planeta estável — Foto: Divulgação/Netflix

Na palestra, ele retomou o conceito dos nove limites planetários que regulam o funcionamento da Terra para alertar a todos sobre os riscos que a humanidade corre ao ultrapassar os limites ambientais que garantem a estabilidade do planeta.

“Estamos começando a atingir o teto dos processos biofísicos que regulam a resiliência, a estabilidade e a habitabilidade da Terra”, disse em sua palestra.

“Seja em São Paulo, em Estocolmo ou em Pequim, o que acontece em diferentes partes do planeta interage e influencia a estabilidade de todo o sistema climático, da hidrologia e do suporte à vida na Terra. É por isso que precisamos definir um espaço operacional seguro para o desenvolvimento humano no planeta.”

A teoria dos limites planetários definiu estes princípios: clima, biodiversidade, uso da terra, ciclos de nitrogênio e fósforo, recursos hídricos, oceanos, poluição do ar, camada de ozônio e poluentes químicos. “O grande avanço científico não foi apenas identificá-los, mas quantificá-los”, explicou.

Segundo o cientista, a noção de que era possível explorar recursos sem limites ficou no passado. “Há 50 anos, não precisávamos disso. Hoje, ocupamos o planeta inteiro e não há mais espaço para sermos insustentáveis.”

Logo no início de sua palestra, Rockström lembrou que o planeta atravessou, nos últimos 10 mil anos, o período mais estável de sua história recente: o Holoceno. Foi nessa era que surgiram a agricultura e as civilizações humanas, sustentadas por condições climáticas e ecológicas favoráveis. “O Holoceno é o único estado do planeta que sabemos com certeza ser capaz de sustentar nossa vida. É o que eu chamo de Jardim do Éden”, afirmou.

Seca histórica ameaça valiosas colheitas na Califórnia, maior produtora de amêndoas no mundo — Foto: Justin Sullivan / Getty Images
Seca histórica ameaça valiosas colheitas na Califórnia, maior produtora de amêndoas no mundo — Foto: Justin Sullivan / Getty Images

Contudo, essa estabilidade está sendo rompida com a ascensão do Antropoceno, a era em que o ser humano é a principal força de mudança no planeta. “O sistema econômico global está no banco do motorista, superando os impactos de erupções vulcânicas, variações solares e terremotos. Essas forças naturais ainda existem, mas nós as dominamos e até as sobrepujamos.”

Para Rockström, a pressão sobre os sistemas naturais pode levar a mudanças abruptas e irreversíveis.

“O planeta é um sistema complexo e auto-adaptativo, que tem pontos de inflexão. Se empurrarmos demais, a Amazônia, a Groenlândia ou os recifes de coral podem colapsar e passar para estados que deixarão de nos sustentar. Esses pontos de virada não apenas reduzem a resiliência dos ecossistemas, mas também ameaçam diretamente economias e sociedades.”

Para o cientista, os dados não deixam dúvidas. “Estamos em uma situação perigosa. Estamos ameaçando a saúde de todo o planeta.” Ele explica que foram definidas zonas seguras, zonas de incerteza e zonas de alto risco na metodologia dos limites planetários.

“O problema é que, em 2023, já mostramos que seis desses nove limites estão sendo ultrapassados — clima, biodiversidade, mudanças no uso da terra, consumo de água doce, excesso de nitrogênio e fósforo, e a enorme carga de substâncias químicas no sistema terrestre.”

Sobrevoo do Greenpeace mostra a expansão do garimpo na terra Yanomami em 2021 — Foto: Christian Braga/Greenpeace
Sobrevoo do Greenpeace mostra a expansão do garimpo na terra Yanomami em 2021 — Foto: Christian Braga/Greenpeace

Essa constatação tem relação direta com o debate sobre políticas públicas no Brasil e no mundo. A Amazônia, por exemplo, é um dos sistemas mais próximos de um ponto de inflexão — quando mudanças irreversíveis podem ser desencadeadas. “O planeta é um sistema complexo e auto-adaptativo, que tem pontos de inflexão. Se empurrarmos demais, a Amazônia, a Groenlândia ou os recifes de coral podem colapsar e passar para estados que deixarão de nos sustentar”, alertou.

Apesar do alerta, o cientista vê na pesquisa uma ferramenta de esperança. Desde 2009, a metodologia dos limites planetários foi refinada e hoje já permite oferecer parâmetros para políticas públicas e decisões empresariais. “Hoje conseguimos oferecer à humanidade um mapa de navegação do Antropoceno. Definimos as fronteiras seguras para o futuro da vida na Terra. Isso nos dá a possibilidade de sermos responsáveis em escala planetária”, disse.

Para Rockström, reconhecer esses limites não é apenas uma questão científica, mas de sobrevivência. “Estamos ameaçando a saúde de todo o planeta. Esse é o diagnóstico da ciência, e ele deve servir como base para qualquer estratégia de desenvolvimento daqui para frente.”

A boa notícia, diz, é que já temos as soluções e já sabemos o que deve ser feito. Seguir o Acordo de Paris e buscar frear o aquecimento do planeta em 1,5ºC é primordial e, segundo ele, é possível. Mas o ritmo de mudanças precisa acelerar urgentemente.

Papel da política internacional e da COP30

A fala de Rockström chega em um momento estratégico: o Brasil se prepara para sediar a COP30, em Belém (PA) em novembro. A conferência deve ser marcada pelo foco em florestas tropicais e na transição justa para países em desenvolvimento. O conceito dos limites planetários, cada vez mais adotado por governos e empresas, oferece um “mapa de navegação” para esse processo.

“Hoje conseguimos oferecer à humanidade um mapa de navegação do Antropoceno. Definimos as fronteiras seguras para o futuro da vida na Terra. Isso nos dá a possibilidade de sermos responsáveis em escala planetária”, disse.

Para especialistas, integrar esse tipo de ciência ao processo político será crucial para que a COP30 avance em compromissos concretos — especialmente em temas como desmatamento zero, proteção da biodiversidade e financiamento climático.

“Estamos ameaçando a saúde de todo o planeta. Esse é o diagnóstico da ciência, e ele deve servir como base para qualquer estratégia de desenvolvimento daqui para frente”, concluiu Rockström.

Earth is halfway to being inhospitable to life, scientist says (RT)

Published time: March 20, 2015 04:02

Edited time: March 21, 2015 10:25 

Reuters / NASA

Reuters / NASA

A Swedish scientist claims in a new theory that humanity has exceeded four of the nine limits for keeping the planet hospitable to modern life, while another professor told RT Earth may be seeing an impending human-made extinction of various species.

Environmental science professor Johan Rockstrom, the executive director of the Stockholm Resilience Centre in Sweden, argues that there are nine “planetary boundaries” in a new paper published in Science – and human beings have already crossed four of them.

Those nine include carbon dioxide concentrations, maintaining biodiversity at 90 percent, the use of nitrogen and phosphorous, maintaining 75 percent of original forests, aerosol emissions, stratospheric ozone depletion, ocean acidification, fresh water use and the dumping of pollutants.

The planet has been our best friend by buffering our actions and showing its resilience,” said Rockstrom. “But for the first time ever, we might shift the planet from friend to foe.”

Image from ideas.ted.com

Image from ideas.ted.com

Rockstrom’s planetary boundary theory was first conceived in 2007. His new paper reveals that because of climate stability, which began when the Ice Age ended 11,000 years ago, a planetary calm helped our ancestors to cultivate wheat, domesticate animals, and launch industrial and communications revolutions. But those advances have strained the stability of the planet, and Rockstrom says we have broken four boundaries: too much nitrogen has been added to ecosystems, too many forests have been cut down, the climate is changing too quickly and species are going extinct at too great a rate.

Speaking to RT’s Ben Swann, Professor of Ethics Bron Taylor from the University of Florida said that we have accelerated the extinction crisis through deforestation and ocean acidification, a development which is driving species to extinction.

“[Human] beings have increased, even from 1925, from 2 billion – which is considered to be a sustainable population for human beings, according to northern European consumption standards – to 7.2 billion at this point,” he said.

What we have also done is increased the number of domestic animals, the ones we eat and the ones that are companion animals. We have 4.3 domestic animals one for every two human beings on the planet. Cultivating the land they need creates species extinction because where they are, other organism are not. Where we cut down forests for cattle, other species are not there.”

We are losing literally tens of thousands of endemic or native species to these trends.”

Professor Taylor told RT that scientists say we entering the Sixth extinction, but that this an anthropogenic extinction caused by human beings.

If you don’t have control over something, there is no moral obligation,” said Taylor. “In this case, we are doing it. So we have to ask the question: If we are doing something that is driving species off the planet, are we in some sense morally culpable?”

“What right do we have to drive [out] other species, who got here in precisely in the same way that we have, who have participated in the long struggle for existence just as we have?”

Meanwhile, Professor Rockstrom is using his planetary boundary theory not as a doomsday message but as analysis to keep the planet “safe” for humanity. He said nations can cut their carbon emissions to almost nothing and pull the Earth back across the climate boundary.

“For the first time,” he said, “we have a framework for growth, for eradicating poverty and hunger, and for improving health.”