A Negação das Mudanças Climáticas e a Direita Organizada – Parte 3 – E o Professor Molion?

by Alexandre Araújo Costa on Sunday, May 20, 2012 at 10:45pm.
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Ricardo Felício fez aparição meteórica no programa do Jô Soares e, naturalmente, não se sabe que alcance isso pode ter em termos de sua carreira de militante negador. Como mostramos em dois textos anteriores (http://www.facebook.com/note.php?note_id=384583481583550 e http://www.facebook.com/note.php?note_id=385757404799491), academicamente trata-se de alguém com atuação evidentemente limitada, trajetória que não demonstra produtividade acadêmica. Desnudamos, porém, sua vinculação com a direita organizada, seja através da MSIa (vide as outras notas), seja via colaboração direta com o site “midia a mais” (idem), que, por sinal, é citado no Lattes de Ricardo Felício como um dos locais em que ele, deixando é claro a conotação acadêmica do termo, “publica”.

Mas evidentemente Ricardo Felicio não é o único negador brasileiro. Atuante há bem mais tempo, com bem mais trânsito na comunidade acadêmica, ainda envolvido de certo modo com a meteorologia, através do Departamento ao qual é vinculado, na UFAL, o principal negador brasileiro continua a ser o velho Luis Baldicero Molion. Aliás, algumas pessoas me indagaram exatamente da maneira como consta no título (“e o Prof. Molion”?) e este texto visa responder a tal pergunta.

Molion é bastante conhecido na comunidade brasileira de meteorologia. Sempre foi afeito a posições excêntricas e teses que cientificamente poderiam ser chamadas, no mínimo, de marginais (como a influência de vulcões submarinos sobre o El Niño-Oscilação Sul). Sempre foi tido como controvertido e polemista na comunidade, mas quero deixar claro que, conhecendo Molion há certamente mais de uma década e meia, isso parecia ser até um traço simpático. Quero, portanto, deixar claro que este texto aqui, longe de pretender atacar a sua figura ponto de vista pessoal, Ele tem como objetivo expor as movimentações de Molion para além do mundo acadêmico, mas que evidentemente levarão à conclusão de que qualquer ilusão de isenção em torno de suas opiniões seria condescendência para com ele.

Sabe-se que o professor da UFAL tem ministrado um sem-número de palestras nos últimos anos, sempre dedicadas ao mesmo tema, isto é, combater o consenso científico em torno do papel antrópico sobre as mudanças observadas no sistema climático. Não é meu objetivo neste breve texto abordar as questões de mérito, o que fiz com um relativo aprofundamento em http://www.facebook.com/note.php?note_id=384584698250095 e em diversos posts em minha página, mas devo frisar que, longe de representar um negador mais sofisticado, Molion também é grosseiro e desrespeitoso em seus ataques ao restante da comunidade e não preza pela coerência científica, fazendo uso da amálgama variada e inconsistente de pseudo-argumentos negacionistas. Num momento, negando todos os dados observados, diz que não há aquecimento, mas resfriamento; noutro, afirma que há aquecimento, mas que este não é antrópico e que – contrariando novamente tudo que foi medido nas últimas décadas – é um efeito do sol; ou ainda, que estamos diante de algo benéfico.

Especificamente essa combinação de isentar os fatores antrópicos e de afirmar que o aumento da concentração de CO2 é benéfica tem caído como uma luva para que Molion transite confortavelmente junto a um público específico: o do agronegócio e do ruralismo. Afinal, se a pecuária não contribui com emissões de metano e se as emissões de dióxido de carbono (e também de metano) associadas ao desmatamento não são um problema, o discurso de Molion representa um tipo de armadura e escudo pseudo-científicos que o agronegócio precisa. Afinal, se ninguém consegue defender os ruralistas dos crimes perpetrados contra trabalhadores rurais e ambientalistas; se a concentração de terra e renda no campo continua sendo uma mácula revoltante desde os tempos das capitanias em um Brasil que nunca fez uma Reforma Agrária de verdade; se o uso massivo de agrotóxicos e o envenenamento cotidiano de nossas mesas também desperta antipatia do grande público… pelo menos com os argumentos “moliônicos”, o agronegócio e os reis do gado e soja ficam livres de acusações quanto à questão do clima…

E de fato, Molion tem falado muito para esse público. Em 24/06/2008, palestrou no “Seminário Cooplantio” (divulgado pela Rádio Rural em http://wp.clicrbs.com.br/radioruralam/2008/06/24/diario-de-gramado-ii-seminario-cooplantio/). Outra entrevista foi divulgada junto ao SINCAL (Assoc. Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite), vide http://sincal.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=940:prof-molion-desfaz-falsas-acusacoes-contra-a-pecuaria&catid=1:noticias-ultimas&Itemid=19. Em 30/03/2009, outra palestra, ministrada na Fenicafé 2009, com o “tema” “Aquecimento global: mitos e verdades. Quais os efeitos para a agricultura?” No evento afirmou que “o aquecimento global é totalmente questionável e amparado em “imbecilidades” (http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?pub_id=49547). Em 01/02/2010, concede entrevista divulgada como “Prof. Molion desfaz falsas acusações contra a pecuária” em MFRural, site que se auto-apresenta como “O MF Rural é um site desenvolvido com a finalidade de facilitar as negociações e promover o encontro entre produtores rurais”. Na home, a chamada é “MF Rural – O Agronegócio passa por aqui!”
http://noticias.mfrural.com.br/noticia-agricola/prof.-molion-desfaz-falsas-acusacoes-contra-a-pecuaria-16151.aspx. Em 26/03/2010, ministrou palestra patrocinada pela Câmara especializada de agronomia do CREA-RJ. Na chamada, no site abaixo, diz-se que “o alarmismo ambientalista, assim como o multiculturalismo, o antitabagismo e a “anti-homofobia”, é hoje uma das principais armas utilizadas na construção do poder mundial”
(http://libertadmatters.blogspot.com.br/2010/03/convite-palestra-aquecimento-global.html). Em 11/02/2011, foi a vez do Conselho Federal de Medicina Veterinária (http://www.cfmv.org.br/portal/destaque.php?cod=443). Nele, Molion diz exatamente o que o público quer ouvir, ao afirmar que “a Pecuária, uma das principais atividades econômicas do Brasil, na qual a Medicina Veterinária e Zootecnia atuam diretamente, sofre uma penalização excessiva como agente causador de poluição”. O site complementa, afirmando que “De acordo com dados de Molion, a relação não pode ser justificada, já que os rebanhos estão em crescimento, com aumento de 17 milhões de ruminantes ao ano e, no mesmo período, as taxas de metano seguem estáveis”.

Mas imbatível mesmo é o que está por vir em poucos dias. Em 26/05/2012, conforme divulgado em http://fakeclimate.files.wordpress.com/2012/05/palestra_adesg-sp1.png, Molion palestrará na XV Assembléia do “Foro do Brasil”, organização de direita cujos ataques à Comissão da Verdade, à constitucionalidade das cotas, à “ofensiva indigenista” e cuja defesa do agronegócio e do novo Código Florestal não deixam dúvidas de se tratar do mais duro e radical neo-fascismo tupiniquim. O site anuncia, altissonante, que “você terá oportunidade de saber como os conceitos de aquecimento global e poluição pelo CO2 são uma grande farsa que movimenta bilhões de Euros, beneficiando empresas, e ongs” e que “conhecerá muitas das verdades e a história desse crime que está sendo cometido”.

Quem é esse tal Foro do Brasil? Em 31 de Março (atentem para a data), tinha a idéia de fundar o POP – “Partido Ordem e Progresso” (http://forodobrasil.info/fb/?p=2361#comment-122). Refere-se à “Começão da Inverdade”, para defender torturadores e assassinos. Os links do “Foro do Brasil”, claro, não poderiam deixar de incluir a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, o Blog do conhecido direitista, ator Carlos Vereza, o “Cavaleiro do Templo”, o “Levante-se Brasil”, os delirantes do “Verde:A Nova Cor Do Comunismo”, o site da Monarquia e, é claro, o indefectível “Midia sem Máscara” (aquele pessoal maluco que diz que a Globo e toda a mídia são “de esquerda”, que a universidade é toda “comunista”, etc.) e outros desse naipe…

E novamente fica claro. Há sempre algo por trás do discurso negador das mudanças climáticas, da postura de ignorar todas as evidências concretas, de passar por cima de tudo que se conhece até de leis da Física, dos ataques grosseiros e virulentos à comunidade científica e da tentativa de gerar descrédito junto à opinião pública em relação à Ciência e aos Cientistas. Quem trabalha realmente em busca da verdade científica disputa seu ponto de vista fazendo valer o método. Coleta dados, faz experimentos, desenvolve e usa modelos. Escreve artigos que, se estiverem corretos metodologicamente, serão apreciados e podem servir de evidência. Se aquilo que Molion traz ao que ele chama de “debate” realmente fossem hipóteses científicas, ele teria bastante espaço. A comunidade ainda tem por ele, até de forma condescendente, apreço e respeito (pela pessoa, eu tenho, mas pela conduta, não). Molion foi chamado para, 4 dias após acusar a todos nós de farsantes e desonestos num evento da extrema-direita, discutir sobre “Extremos Climáticos, Zona Costeira e Semi-Árido”, num evento em Natal, do qual também participarei, sobre Mudanças Climáticas e Vulnerabilidade (http://www.ccet.ufrn.br/cciv2012/). Molion seria ouvido na comunidade, se sua postura fosse de fidelidade ao método científico. Mas, assim como no caso de Ricardo Felício, a ciência anda longe. Há muito foi abandonada, em nome da agenda política. O agronegócio e os neo-fascistas, claro, aplaudem.

Um comentário em “A Negação das Mudanças Climáticas e a Direita Organizada – Parte 3 – E o Professor Molion?

  1. Por que ser contra o que se chama de Direita ou conservadorismo ou Liberalismo ? A direita é que nos traz a democracia, é na direita onde reside os direitos de todos os indivíduos e as eleições livres …. a esquerda é totalitária …. basta estudar história … a mídia é de esquerda ? sim …. as faculdades e universidades estão dominadas por esquerdistas ? sim … isso é fato … claro que unanimidade não ocorre, a diversidade é lei natural nos grupos humanos e alguns esclarecidos escapam da alienação …. mas a esquerda ataca forte, cria denominações, rótulos … na realidade , mais para se defender e fazer cena do que para atacar. Pois em sua maioria são fracos. Não existem ditaduras tão absurdas e desumanas como em Cuba, como na Coreia do Norte, Venezuela hoje, as ditaduras africanas … a fome produzida na Etiópia após a Cubanização …. enfim … a esquerda é a estupidez humana manifesta de forma histórica … e inexplicavelmente , apaludida e fanaticamente defendida por jovens , pseudointelectuais com camisetas do Che Guevara o carrasco cubano, racista e homofóbico que é ícone dos direitos humanos nas universidades … KKKKKKKKKK

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